Diante dos ocorridos nas últimas semanas, faz-se necessária uma
manifestação do Grupo Katumbaia sobre o episódio do Instituto Royal e
sobre o ato marcado para o dia 31 em Seropédica.
O Grupo Katumbaia
se insere numa parcela crescente de nossa sociedade, que compreende a
inadequação, principalmente do ponto de vista ético, da utilização de
animais, independentemente de suas condições serem consideradas de bem
estar ou maus tratos.
Acreditamos na abolição da exploração animal,
ou seja, a rejeição da prática de considerar e tratar os animais como
propriedade ou como fim para uso humano. A partir do momento em que
reconhecemos animais como sujeitos de direito, não podemos mais
considerá-los meros objetos para experimentação científica, por exemplo.
De acordo com estes princípios, a retirada de animais de biotérios,
fazendas, zoológicos, entre outros locais onde os mesmos são tratados
como instrumentos para os nossos fins, só pode ser considerada como
resgate. Roubo só pode ser efetivado em relação a propriedade, categoria
na qual sujeitos de direito não se encaixam. Incluir todos os seres
senscientes na nossa esfera de consideração moral é a forma mais eficaz
de avançarmos na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.
Somos contrários a destruição de equipamentos e não acreditamos que
tal conduta contribua para a sensibilização dos integrantes da
comunidade científica, tampouco para o fim dos testes em animais. No
entanto, compreendemos que a invasão do Instituto Royal e outras ações,
consideradas extremistas ou ilegais por outros, são o reflexo da
insatisfação popular frente ao uso de animais em pesquisas. Isso também
se deve a quase inexistência de avanços no posicionamento do governo e
de suas instituições em relação a adoção e estimulo à pesquisa e ensino
humanitário. No Brasil, não há editais de fomento ao desenvolvimento de
linhas de pesquisa humanitária. CNPQ, FAPERJ, FAPESP, CAPES, todos
parecem estar exclusivamente comprometidos com a experimentação animal, e
nunca deram motivos para que pensássemos diferente. Estudantes são
diariamente discriminados e tem seu direito de objeção de consciência
violados de ponta a ponta do nosso país. Na própria UFRRJ, exceto pela
Coordenação de Medicina Veterinária, não há uma só iniciativa
institucional pelo ensino e pesquisa humanitários, e as gestões
anteriores da Administração Superior foram incapazes de nos receber ou
tratar o assunto de forma direta e séria.
Os 3Rs (substituição,
redução e refinamento – do inglês) foram desenvolvidos na metade do
século passado, e embora sejam consenso na ciência, até hoje o que se
fez no Brasil pela sua aplicação, que não sejam iniciativas individuais
de uns poucos professores e pesquisadores? Se houvesse seriedade na
questão, minimamente, as leis que proíbem o uso de animais vivos em
aulas da Graduação já seriam respeitadas, valendo o mesmo para o uso de
animais em testes de cosméticos, e certamente o BRACVAM (Comitê
Brasileiro de Validação de Métodos Alternativos) já teria aprovado uma
série de métodos substitutivos que dispensariam a exigência legal de
muitos testes em animais para medicamentos. Vale lembrar que muitos
centros de pesquisa e Universidades já se utilizam exclusivamente de
metodologia humanitária, mantendo qualidade equivalente ou superior aos
testes com animais.
Percebemos erros de ambos os lados. Seja pró ou
contra o uso de animais, alguns grupos e pessoas tem se utilizado de
jargões e informações falsas ou incompletas e tem sido incapazes de
colocar um debate maduro. No entanto, em tempos tão difíceis,
gostaríamos de lembrar que a livre manifestação de crença e opinião é um
direito de todos os cidadãos. Logo, perseguições e arbitrariedades por
parte de órgãos públicos devem ser consideradas inaceitáveis.
O
Grupo Katumbaia está aberto a comunidade universitária e de Seropédica.
Propomos que o LQEPV trabalhe no sentido de desenvolver e adotar linhas
de pesquisa que priorizem o “R” da substituição do uso de animais.
Consideramos anticientífico afirmar que só há uma maneira possível de se
fazer pesquisa. Solicitamos que a UFRRJ aprecie com seriedade o
processo administrativo de número 23083.009021/2013 e conforme o
pleiteado no mesmo, convoque uma reunião com os respectivos nomes
listados. Por fim, solicitamos que a UFRuralRJ analise e viabilize a
implementação de medidas de fomento ao desenvolvimento e utilização de
linhas de pesquisa humanitárias sem animais.
O Grupo Katumbaia
sempre lutou e lutará pela garantia dos direitos individuais de todos os
animais, incluindo aqui o homem, e acreditamos que a real evolução da
sociedade se dá em torno da ampliação da esfera dos direitos. Portanto,
convidamos a todos para a construção deste novo paradigma de pesquisa e
ensino que tanto avança a nível mundial. Não fiquemos para trás, tomemos
a dianteira!
Nenhum comentário:
Postar um comentário